sábado, 24 de fevereiro de 2007

A Feira

No mercado municipal tem tenda; tem barraca. Lá tem fruta: goiaba, banana às pencas, é o que mais tem. Tem, também, colesterol pra todo gosto: pastel, pamonha, tudo frito. Tem pizza de tarde, de noite, todo dia; frango assado, palmito, farofada e tempero pra qualquer festa. Vendem-se doces e salgados de muitos tipos e lugares. E o mais importante: a gente que os use.
Tem velho, homem, mulher, gago, baixo, gordo, forte e desdentado que finge um sorriso bonito. Tudo falso!
Mas há outros mal-vestidos ou bem arrumados que chegam pra alimentar quem se gosta, presentear quem se quer, pois lá tem brinquedo, além de comida. É bem verdade que muitos deles não duram nada, são quase de mentira. Tem mentira no mercado. Não sobra, mas também não falta!
Lá se vê gente que grita, gente que ouve, que murmura, fala grosso e pechincha. Gente que vai e volta e passa oito vezes pelo mesmo lugar. Acho intrigante, mas tem gente que vive na feira, literalmente. E gosta! Também, quem entra, nunca sai de mão vazia; sempre ganha algo em troca. Vira tudo uma salada só! É mistura de todo canto. Tem daqui, dali, do interior, exterior, da fábrica, da serra, da água doce, da terra, do mar, que voa...
Tem até um mendigo que quando vi sentado na porta de entrada da feira pelo sétimo dia consecutivo, perguntei:
- Por que não entra nunca à feira?
- É que quem tudo vê, nada tem.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Extra! Extra!

Num jornalzinho:

[Na cidade de Finaqui, um fato inusitado chamou a atenção de moradores e autoridades. Alunos de uma escola da rede pública dissertaram sobre o tema “Violência”, durante a primeira semana de aula.
Tamanho foi o susto do professor ao se deparar com duas redações que o deixaram em uma situação embaraçosa.
O primeiro aluno (J.S.P.) escreveu o seguinte:
“A violência é um mal real em nossa sociedade. Deve-se fazer de tudo para tentar erradicá-la do nosso meio, pois, benefícios ela não traz algum... Durante as férias, minha família sofreu um forte golpe por conta dessa onda de maus-tratos evidentes em nossa cidade... E, então, meu tio estava voltando para casa em seu carro novo que, com tanto sacrifício, conseguiu comprá-lo quando, de repente, foi abordado por três sujeitos encapuzados que o forçaram a sair do carro e a entrar no porta-malas... e após quase três horas desaparecido, sem dar qualquer sinal de vida à sua família, ligaram do hospital pedindo que fossem até lá para preencherem os formulários de internação... e somente após dois dias meu tio pode voltar à sua vida normal... espera-se o dia em que as autoridades sintam-se na pele daqueles que sofrem com o problema da violência e ajam de forma exemplar com os infratores... em nome do bem-estar social.”
Em sua redação, o outro aluno (J.S.F.) expôs suas idéias da seguinte forma:
“Não há dúvidas de que a violência retrata bem o que seja nossa sociedade nos dias de hoje: um sistema falido e carente de justiça... a desigualdade social é o principal causador dessa desordem vivenciada... em nosso dia-a-dia... A classe pobre é sempre desfavorecida e discriminada. Há algumas semanas, três amigos meus foram acusados de terem roubado um carro quando, na verdade, não foram eles que roubaram... foram presos e lá estão até hoje... muito se vê, nos bairros pobres, crianças crescerem e acabarem por incorporar o “ilegal” como parte de sua vida, uma vez que é assim que sempre o verão, enquanto um membro da classe baixa... e clama-se, sim, por justiça em nossa sociedade... e é também necessário que os nossos comandantes usem do bom-senso para lidar com essas questões, sem tratar a classe baixa com indiferença e violência... eles devem tentar trazer a paz à nossa sociedade, mas com a seguinte pergunta sempre em mente: E se fosse meu filho o infrator, como eu o trataria?”
Ao ser questionado por nossa equipe de reportagem como foi resolvido o impasse, Ferdinando Donnateli Praxedes (o professor) foi categórico: “Cabe a mim fazer com que eles saiam da escola sabendo escrever um bom português”, arremata.]

Fiquei curioso e deveras indignado por não terem insistido em saber a nota dos dois alunos. “Êta, equipe de reportagem incompetente! Jornalistas assim é o que não faltam”. Mudei de página e fui saber das novas contratações do meu time.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Singular

A mãe chamou o filho que chegou do primeiro dia de aula e foi direto para o campinho jogar futebol com os amigos:
- Vem almoçar, menino!
- To indo, mãe! – e entrou.
Sabedor das coisas e bom aluno, foi logo dizendo:
- Mãe, hoje a professora de português me fez elogios na sala de aula. Disse que, mesmo depois das férias, eu continuava sabendo a matéria do ano passado.
- Hum! E qual era o assunto, meu filho?
- Plural.
- É aquelas coisas que a gente usa pra dizer quando tem mais de um, né?
- É, mãe! Bem essas, mesmo. – olhando de rabo de olho e sério.
- Tem que aprender direito pra não ter problema com trabalho quando crescer. A maioria das pessoas falam errado. Seu pai sempre disse isso.

- Hum!...
- Mas todo mundo tem seu jeito particular. Eu, mesma, não gosto de quem me corrige a fala. Não concordo com essas coisa! Vou pegar os prato pra gente comer.
O menino manteve a quietude, por respeito à mãe, e não a corrigiu. Mas, sussurrou baixinho, enquanto sua mãe pegava os pratos na cozinha:
“Essa minha mãe discorda em tudo... e tem um jeito tão singular de usar o plural!”

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Pessoa

PESSOA

Se tudo vale a pena
E a alma é grande que voa,
Vai ver, o que falta é só o notável
Detalhe de ser Pessoa.