Uma ruazinha com ar nostálgico. Era, sim! Uma rua sem calçadas, sem cimento, sem concreto. Havia um rumo para nela se seguir, sim, mas tudo formado com a ajuda do vento e dos passos marcados pelas pessoas que ali pisavam todos os dias, por todo o tempo; ao longo do tempo que a ruazinha existia. E existia, sim!
Às vezes passava por ela, parava, olhava, o que me deixava um pouco confuso ficar ali, assim absorto, buscando captar o que aquela ruazinha significava pra mim. Havia dias em que a grama seca era contrastada, paradoxalmente, às flores sempre vívidas, reluzentes que adornavam toda a paisagem da rua. Todas as casas, tanto as da direita quanto as da esquerda que delineavam e traçavam os limites da ruazinha, ganhavam vida com as rosas, gardênias, hortênsias, girassóis, orquídeas, margaridas e todas as outras que conheço muito bem; ganhavam brilho e escapavam à visão de tantas pessoas que as quisessem absorver somente com o olhar que logo se perdia no horizonte infinito de cores.
Também nunca soube dizer se era primavera. Apesar das flores sempre vivas, um sol fosco era sempre presente. Mal se viam sombras. Por vezes, cheguei a pensar que aquele lugar era mágico; que Deus não tinha poder sobre ele. Juro que o mistério de tudo aquilo hipnotizava, promovia divagações infindas. Bastava estar ali e toda essência da ruazinha fugia a qualquer explanação lógica. Outono sem graça, seco e constante, com árvores frondosas e altas que seriam refúgio perfeito para o casal apaixonado ou o peão que descansa fazendo a cesta depois do almoço num dia de verão. Não sei! As pessoas que nela viviam preferiam ficar quietas, pois, uma rua assim, apesar de toda beleza, afugenta com tantas incógnitas tangentes. Sendo assim, havia dias em que tudo se assemelhava ao mais intenso inverno, pela falta de vida aparente. Rigorosa proteção do frio que a ruazinha inspirava; mesmo sem chuva; mesmo sem neve.
Aquelas casas altas, grandes em espaço e beleza. Rústicas e com muitas janelas. Muitas! Vi muitas outras flores através delas. Vi muitos mundos à parte, dentro daquelas grandes casas. Em uma vi três crianças correndo enquanto uma suposta mãe preparava o jantar em uma panela de pressão. Eram os sons mais comuns, os das panelas, em vez de pássaros na paisagem. Lembro-me de que segui um pintassilgo até a janela de uma outra casa vizinha. Ficamos os dois assistindo à cena que se passava na tela daquela janela: uma lareira acesa e, ao lado, uma gaiola com dois passarinhos que cantavam com uma beleza tão grande quanto a de todas aquelas casas. Afastando-me, podia ver a fumaça da lareira subindo por uma chaminé, desenhando nuvens bonitas no céu que logo se desmanchavam e se fundiam com o mistério daquela ruazinha.
E era assim aquela ruazinha, bem ali, desenhada naquele pedacinho de azulejo. Às vezes lembro e penso: quantos pedacinhos de azulejo, como este, seriam necessários para compor uma cozinha, completar um salão de festas ou um banheiro?
Às vezes passava por ela, parava, olhava, o que me deixava um pouco confuso ficar ali, assim absorto, buscando captar o que aquela ruazinha significava pra mim. Havia dias em que a grama seca era contrastada, paradoxalmente, às flores sempre vívidas, reluzentes que adornavam toda a paisagem da rua. Todas as casas, tanto as da direita quanto as da esquerda que delineavam e traçavam os limites da ruazinha, ganhavam vida com as rosas, gardênias, hortênsias, girassóis, orquídeas, margaridas e todas as outras que conheço muito bem; ganhavam brilho e escapavam à visão de tantas pessoas que as quisessem absorver somente com o olhar que logo se perdia no horizonte infinito de cores.
Também nunca soube dizer se era primavera. Apesar das flores sempre vivas, um sol fosco era sempre presente. Mal se viam sombras. Por vezes, cheguei a pensar que aquele lugar era mágico; que Deus não tinha poder sobre ele. Juro que o mistério de tudo aquilo hipnotizava, promovia divagações infindas. Bastava estar ali e toda essência da ruazinha fugia a qualquer explanação lógica. Outono sem graça, seco e constante, com árvores frondosas e altas que seriam refúgio perfeito para o casal apaixonado ou o peão que descansa fazendo a cesta depois do almoço num dia de verão. Não sei! As pessoas que nela viviam preferiam ficar quietas, pois, uma rua assim, apesar de toda beleza, afugenta com tantas incógnitas tangentes. Sendo assim, havia dias em que tudo se assemelhava ao mais intenso inverno, pela falta de vida aparente. Rigorosa proteção do frio que a ruazinha inspirava; mesmo sem chuva; mesmo sem neve.
Aquelas casas altas, grandes em espaço e beleza. Rústicas e com muitas janelas. Muitas! Vi muitas outras flores através delas. Vi muitos mundos à parte, dentro daquelas grandes casas. Em uma vi três crianças correndo enquanto uma suposta mãe preparava o jantar em uma panela de pressão. Eram os sons mais comuns, os das panelas, em vez de pássaros na paisagem. Lembro-me de que segui um pintassilgo até a janela de uma outra casa vizinha. Ficamos os dois assistindo à cena que se passava na tela daquela janela: uma lareira acesa e, ao lado, uma gaiola com dois passarinhos que cantavam com uma beleza tão grande quanto a de todas aquelas casas. Afastando-me, podia ver a fumaça da lareira subindo por uma chaminé, desenhando nuvens bonitas no céu que logo se desmanchavam e se fundiam com o mistério daquela ruazinha.
E era assim aquela ruazinha, bem ali, desenhada naquele pedacinho de azulejo. Às vezes lembro e penso: quantos pedacinhos de azulejo, como este, seriam necessários para compor uma cozinha, completar um salão de festas ou um banheiro?