Mais um talho no dedo e a cana deitada no chão se amontoa por um caminho que escapa à visão.
Queria ver Maria sentada lá no quintal da casa, pilando o café servido amanhã, com certeza! Um dia hei de casar com uma moça bonita. Ah, eu sonho, sim, entrar na igreja com aquela roupa preta e um lenço no bolso; o cabelo brilhando. Penso, sim, em ter família e comprar terra boa pra plantar. No dia do casamento quero meus amigos todos lá; minha família. Sei não, mas minha mãe vai chorar demais. Mas é de alegria. É! Um dia vou casar, mas é que agora ainda não posso, né. Ainda tenho que ajuntar dinheiro. E é tanto pouco tempo pra viver, que não conheço moça tem é tempo! Outro dia me lembrei foi das meninas da Vila Ipezinho. Êta, mas aquelas eram folgadas, viu! E não eram de confiança, também. Tinha hora que era uma querendo comer o fígado da outra e a outra querendo sentar a faca nas costas da uma... nem dava gosto. Ta vendo esse sangue aqui no dedo? É pouco. Já vi foi muito mais que isso. E não eram só elas. Na vila, nem os homens eram de confiar. O Darço que mandava na cidade parecia garrote que segue a fila e só levanta a cabeça se for pra desviar do rabo do boi da frente. Era um babão, aquele. Pastava na mão de qualquer um. Ainda tinha homem que botava banca de vaqueiro, tocava a manada, montava no lombo dos cavalos que trotavam no ritmo certinho. Quem tem rédea vai até onde quiser, ou até o cavalo morrer e trocar por outro, né. Tinha cobra na cidade, também, que nem aqui, só que é gente... Tinha hora que eu não sabia quem era pior. Se, de um lado, tinha o vaqueiro que era quem mandava de verdade e não levantava o rabo do lombo dos cavalos, por outro, onde se pisava tinha cobra traiçoeira. O Darço, coitado, nem via o que acontecia ao redor. Ou preferia não ver, né. Diz que, de gente assim, se desconfia duas vezes. Já vi a Miana e o Jerssi soltar os venenos na hora certinha. Um dia, dizem, né... não sei... que o Jerssi fez umas propostas de desposar a Miana lá detrás do monjolo. Miana não quis. Queria casar antes. Mas ficou nisso, né. Miana tinha apreço pelo moço; tinha simpatia. E ele, muita estima pela moça. Acontece que de tanto levar não, o Jerssi se engraçou com Dorinha, moça que chegou na vila um tempo depois, e a tal moça também começou a se arrastar pra ele. Resolveram noivar. Acontece que o Boloca, irmão da Miana, viu as proximidades da irmã com o Jerssi lá no monjolo e resolveu delatar. Aí foi farofa pra todo lado. A vila toda começou a falar mal do Jerssi e tomaram partido da moça. Resultado foi que ela resolveu falar que ele tinha era forçado, e que não falou nada antes pra proteger a reputação dela e a posição do moço, que até tinha certo prestígio. Ele bem que tentou se justificar, mas não deu. Teve que sair fugido e nunca mais vi o sujeito. Perdeu foi tudo, aquele. Daí a vila toda ficou sabendo e eu nem sabia quem era pior... se era o Jerssi que fez o malfeito ou se a Miana que mentiu, dizendo que foi forçada. Acho até bom não julgar, por quê, depois, quem vai parar no inferno sou eu. Já é meio desagradável viver com esse povo aqui. Imagina dividir espaço com eles lá na casa do tinhoso. Deus que me guarde disso. Prefiro ficar aqui na cana. Cá eu ganho pouco e talho o dedo, mas só me preocupo com a comida e a visão de Maria todo dia. Hei de casar com uma moça como ela, sim. Tem a Ruiva que se engraça pro meu lado, mas não chega aos pés da Maria. A Maria que é razão de sorriso. Se Ruiva tivesse as pernas dela; a beleza. Ah, se fosse dela! Ah, se fosse bela! Como ela, só o amor de Jesus que, aqui na vida, só se sente, não se vê. É tudo época! De plantar e de colher.
Queria ver Maria sentada lá no quintal da casa, pilando o café servido amanhã, com certeza! Um dia hei de casar com uma moça bonita. Ah, eu sonho, sim, entrar na igreja com aquela roupa preta e um lenço no bolso; o cabelo brilhando. Penso, sim, em ter família e comprar terra boa pra plantar. No dia do casamento quero meus amigos todos lá; minha família. Sei não, mas minha mãe vai chorar demais. Mas é de alegria. É! Um dia vou casar, mas é que agora ainda não posso, né. Ainda tenho que ajuntar dinheiro. E é tanto pouco tempo pra viver, que não conheço moça tem é tempo! Outro dia me lembrei foi das meninas da Vila Ipezinho. Êta, mas aquelas eram folgadas, viu! E não eram de confiança, também. Tinha hora que era uma querendo comer o fígado da outra e a outra querendo sentar a faca nas costas da uma... nem dava gosto. Ta vendo esse sangue aqui no dedo? É pouco. Já vi foi muito mais que isso. E não eram só elas. Na vila, nem os homens eram de confiar. O Darço que mandava na cidade parecia garrote que segue a fila e só levanta a cabeça se for pra desviar do rabo do boi da frente. Era um babão, aquele. Pastava na mão de qualquer um. Ainda tinha homem que botava banca de vaqueiro, tocava a manada, montava no lombo dos cavalos que trotavam no ritmo certinho. Quem tem rédea vai até onde quiser, ou até o cavalo morrer e trocar por outro, né. Tinha cobra na cidade, também, que nem aqui, só que é gente... Tinha hora que eu não sabia quem era pior. Se, de um lado, tinha o vaqueiro que era quem mandava de verdade e não levantava o rabo do lombo dos cavalos, por outro, onde se pisava tinha cobra traiçoeira. O Darço, coitado, nem via o que acontecia ao redor. Ou preferia não ver, né. Diz que, de gente assim, se desconfia duas vezes. Já vi a Miana e o Jerssi soltar os venenos na hora certinha. Um dia, dizem, né... não sei... que o Jerssi fez umas propostas de desposar a Miana lá detrás do monjolo. Miana não quis. Queria casar antes. Mas ficou nisso, né. Miana tinha apreço pelo moço; tinha simpatia. E ele, muita estima pela moça. Acontece que de tanto levar não, o Jerssi se engraçou com Dorinha, moça que chegou na vila um tempo depois, e a tal moça também começou a se arrastar pra ele. Resolveram noivar. Acontece que o Boloca, irmão da Miana, viu as proximidades da irmã com o Jerssi lá no monjolo e resolveu delatar. Aí foi farofa pra todo lado. A vila toda começou a falar mal do Jerssi e tomaram partido da moça. Resultado foi que ela resolveu falar que ele tinha era forçado, e que não falou nada antes pra proteger a reputação dela e a posição do moço, que até tinha certo prestígio. Ele bem que tentou se justificar, mas não deu. Teve que sair fugido e nunca mais vi o sujeito. Perdeu foi tudo, aquele. Daí a vila toda ficou sabendo e eu nem sabia quem era pior... se era o Jerssi que fez o malfeito ou se a Miana que mentiu, dizendo que foi forçada. Acho até bom não julgar, por quê, depois, quem vai parar no inferno sou eu. Já é meio desagradável viver com esse povo aqui. Imagina dividir espaço com eles lá na casa do tinhoso. Deus que me guarde disso. Prefiro ficar aqui na cana. Cá eu ganho pouco e talho o dedo, mas só me preocupo com a comida e a visão de Maria todo dia. Hei de casar com uma moça como ela, sim. Tem a Ruiva que se engraça pro meu lado, mas não chega aos pés da Maria. A Maria que é razão de sorriso. Se Ruiva tivesse as pernas dela; a beleza. Ah, se fosse dela! Ah, se fosse bela! Como ela, só o amor de Jesus que, aqui na vida, só se sente, não se vê. É tudo época! De plantar e de colher.
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