terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ocupado

Ocupar-se em dizer a verdade para que (?), se a verdade só existe na imaginação de quem vê? E, inocentemente, a gente se esquece disso.
Pedidos de desculpa, idem! Para quê? Embora pareça nobre, dependendo do ouvinte e da máscara com a qual ele se veste, isso pode ser a guarda aberta para o desferimento de um golpe que, acredite, pode vir de onde menos se espera e o resultado é anestesiante de tanta dor. Ato de humildade que nem sempre vale o sacrifício da cabeça baixa. Tudo isso porque o reconhecimento de um erro faz emergir atestado de vitimização para quem o ouve.
Honestidade numa hora dessas?! Que adianto traz? Tentar agir conforme o coração pede, além de jargão e piegas, fez o vizinho ser morto ou preso, se sobreviveu!
A alma lavada, a consciência tranquila, o espírito limpo, o corpo leve, a ética...
Seria essa a justificativa, certo?
Seria!
Mas, que alma, que corpo, que espírito e que consciência? Já não foram lançados ao chão por quem sofreu a agressão de um pedido de desculpa, de ter ouvido a verdade e da ingenuidade que uma honestidade traz consigo?
Devem, ambos, estar presos, mortos, sacrificados, de maneira piegas, ao lado do escombro que abriga a vítima, simplesmente esperando a sua vez que, fatalmente, não virá. Nunca acreditei que a melhor ética pudesse ser a autopreservação.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Inn e Iang do Oeste

Correndo o risco de encabeçar a lista, um ignorante é produto do meio ou a ignorância é o próprio meio pra se alcançar um objetivo?
Pra que pensar tanto se é a prática da vida quem salva do apuro de um tiroteio no meio da rua? “agora abaixo-me, deito-me no chão, não confronto...”; “agora tiro o sujeito do carro e desfiro um soco...”; “agora me escondo e espero o pior passar”; “agora pego escondido e permaneço vivo” etc etc etc. Uma vez Piteco, sempre Piteco!
De fato, a prática é a essência... e leva à suspeição. Todo mundo desconfia até do gato preto, coitado, que nem sabe que se chama gato. Seria apelar, acho, se suspeitasse de minha própria sombra. Contanto, meu reflexo num espelho quebrado por mim, “pé de pato, mangalô trêis vêiz!”. Isso é científico. Dá uma tese.
Posso expor esse viés, mas qualquer um diria que não levo em conta e ignoro o tanto que evoluímos, as descobertas, o celular, a célula nervosa, o computador (veja bem que infâmia!). E hei de render-me. Até porque a prática não traduz todo potencial que nos faz viver, embora haja casos em que só ela seja suficiente.
Talvez, a ignorância esteja no uso e não no saber? Que tal, então?
Ao mesmo tempo em que o homo sapiens sapiens descobriu que podia enxergar mais longe na busca de Deus e sua fazenda em outros planetas quaisquer da galáxia, aprendeu a olhar mais de perto, tão de perto que passou a enxergar o que não se pode ver a olho nu. Não obstante (pra manter o rigor científico), começou a pensar que também existia uma dimensão interior profunda, que só se pode conceber por meio de esforço imaginativo. Traços de evolução? Sim! Descemos da árvore e saímos da caverna (não a de Platão que nem era nascido à época. Esta ainda é moda!). E agora? Pra que rumo vamos?
Longe de mim afirmar que a ciência é a cara-metade da ignorância, mas juro que há momentos em que o tanto que a ciência, em seu sentido mais amplo, fez pra que ostentássemos o status máximo na escala evolutiva e um nome científico pomposo e deveras complicado, por vezes, me faz sentir numa jaula de homo sapiens demens.

Carta de um Apologista Confesso

Sr. Cidadão Gaia,

Gostaria, profundamente, de começar o ano bem. Sendo assim, não consigo encontrar outro meio, senão o de me delatar e esperar um veredicto que me condene ao que bem mereço.
Fui eu, sim, Senhor Gaia, quem espalhou a história que hoje faz de nós um povo tão perdido e mal-amado. Foi um ato invejoso e inconseqüente do qual muito me envergonho.
Era pra ser um mito, tão somente, que depois serviria como apreciação literária. Só apreciação! É tudo que eu sempre quis. Sempre cresci sabendo do sucesso de meus irmãos e queria ser como eles. Mamãe se orgulharia de mim, também.
Infelizmente, tomaram-se proporções grandiosas e o que era pra ser um passatempo transformou-se em tragédia in vivo et in loco.
Foi de uma historieta que surgiu todo esse inferno que estamos. Só Deus sabe o quanto me lamento!
Por diversos momentos, reuni-me secretamente com outros escritores frustrados a fim de criar a obra-prima dos mitos. A pretensão era transformá-la em um mito marcante, vívido, para que o guardassem para sempre como quem guarda para sempre as letras escritas em um pergaminho sépia.
Daí, ferrou-se tudo!
A história passou de boca a ouvido, como diriam os chineses. Sempre acreditei que o poder do som fosse mais marcante, como um concerto de Bach ou de Villa-Lobos. Era, ainda, uma forma de proteção, confesso. Por isso, nunca deixei que qualquer cópia impressa escapasse de meu caixa-forte.
No entanto, dada a necessidade, parece-me que escrevê-la possa alcançar mais rapidamente a mente de todos. Hoje, a preocupação, o pesar, a culpa e arrependimento me pesam quinze quilos, redondos, a mais que meu instinto de sobrevivência.
E aí vai a prova do crime...
Antes de rascunhar os borrões que se seguem como um desabafo, auto-delação ou pedido das mais sinceras desculpas, penso ser justo explicar alguns termos que saíram de minha mente fértil, para que o Senhor não se perca e possa me perdoar. São termos recorrentes:
Casa Platô – Templo construído em homenagem ao Rei Platus, figura importante da mitologia que originou o movimento politinítico, em uma elevação do Monte Alijhaera.
Monte Alijhaera – Local sagrado onde se hospedavam os deuses mais poderosos. Foi palco de diversas batalhas, onde os mais fortes eram promovidos e os mais fracos sucumbiam.
Politinítica – ideologia criada por Platus, cuja lei maior é adequar-se ao que mais for útil. Segundo os politínicos todo homem é bom ou mau, depende da circunstância. Estaria aí o segredo da felicidade.

“Do alto do Monte Alijhaera, Rahís (irmão do dono do universo, que estava licenciado por um problema na panturrilha esquerda) despachava o serviço quando foi interrompido por Platus, um jovem ambicioso, astuto e muito esforçado:
- Diz-me o que queres, Platus – pronunciou Rahís, pegando um copo de água e levando-o à boca.
- Quero ter meu próprio mundo, majestade. Cresci, aprendi e me julgo apto a ter minhas próprias regras, a gosto de meu bel prazer.
O vice-deus Rahís engasgou-se e, por meio de sua tosse, respingos da água, carregados de rancor, indignação e ira foram lançados aos quatro ventos da Terra, povoando-a de uma nova espécie que sairia de seu casulo após sete anos de mutação.
- Eis o teu pedido, Platus! Aí está tua nova raça. Cria, alimenta e ensina tudo o que julgares adequado. Só não te esqueças de uma coisa: um dia serás a inspiração maior da Uruborus. Vai-te, insolente! Irás voltar e te peço que não te inclines somente cinco graus a quem estiver neste trono. Caso contrário, serás morto. – e cuspiu em direção ao solo, lançando numa terra que, mais tarde, seria chamada de “Terra do Ipê-Roxo” a maior parte da água que ainda havia em sua boca.
Solitário, porém, orgulhoso, Platus desceu em direção à sua nova morada. Não entendeu aquilo como um rebaixamento, mas como uma exclusão, um castigo.
Pautado por seu caráter duvidoso, Platus escondeu-se numa caverna por quinhentos anos, alimentando-se de água da chuva, inicialmente. Logo depois, descobriu que podia usar as ovas do animal que mais o ameaçava à época: o esturjão. Era uma forma de extinguir o medo de ser exterminado por sua maior ameaça, bem como de alimentar a si e a suas crias. Assim, criou o que mais tarde seria chamado de caviar. Prosperou em seu plano e sentiu-se mais confiante que nunca.
Saiu da caverna e em sua aventura mais desafiadora, ordenou que suas criaturas se espalhassem pelos quatro cantos do mundo, propagando os conceitos de Subordinação Falseada. Lutou contra monstros marinhos e da terra. Preparou-se para sua batalha final durante milênios, até agregar ao seu grupo aquela que fez com que brotasse a ambição mais profunda que se já conheceu: Politéia.
Sedutora e mais astuta que Platus, convenceu-o de que o medo não faz prosperar.
- É verdade, Poli! Tem razão. Amanhã conquistaremos Alijhaera!
E assim passou a noite com o sono mais tranqüilo que já tivera em sua vida.
Acordou, montou seu cavalo e subiu o Monte Alijhaera, com todos seus súditos e Politéia ao lado.
Ao chegar ao topo, adentrou-se no salão principal e tamanho fora seu susto ao deparar-se somente com os rélys (povo devoto de Rahís, bastante inteligente, crítico mas altamente dependente das ordens do vice-deus).
Uma vez assim, obedeceram à ordem de retirada proferida por Platus. Resmungaram muito, mas saíram. Logo encontraram outro monte, mais abaixo, para habitar.
Na saída, Platus dirigiu-se a um deles:
- Vem cá! Onde estão os deuses?
- Viajaram! – e saiu, dando as costas a Platus.
Perplexo, Platus sorriu, deu de ombros e sentou-se ao trono.
Foi desse dia em diante que os ensinamentos politínicos passaram a ser conhecidos por aquela terra. Disseminou-se a prática politínica e proliferaram-se os casulos em todas as cavernas e buracos daquele mundo. Seres que não nasciam dos casulos, aderiam às práticas da ideologia e faziam disso sua razão de existência.
Todo o império politínico só correu risco de queda uma única vez.
Foi quando Platus, ao acordar numa madrugada para beber um copo d’água, surpreendeu Politéia com Sacro, o Sagrado em seu trono.
Ambos foram banidos e Platus reinou sozinho, com seus súditos à base de caviar e Subordinação Falseada.
Politéia viveu com Sacro pelo resto de sua vida, mas não conseguiram um reino no alto de um monte. Habitam de favor nas casas de quem os aceita como hóspedes.”

É esse, portanto, o mito-pai de toda a bagunça.
Não era pra levarem tão a sério assim!
Sem mais para o momento, espero por minha condenação conformadamente.



J.W. Grimm (o Caçula)
Recanto de Meio-Centro, 1 de Janeiro de 2015

P.S.: o endereço está no envelope.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Quantas Contas! Conte-se!

Mais que dois, são três... são quatro, cinco, dez... não importa o exercício que o valha, sempre a quantidade traz consigo a dificuldade no controle, na resposta ágil e convicta. Sempre!
É simples: quanto maior a quantidade, mais tempo para tudo, mais peso em tudo, mais conta, raciocínio, demanda, dúvidas ou certezas.
Não quero dizer, com isso, que a maior quantidade faça emergir um sentido de derrota ou desespero. Ao contrário, o dito reza que “o que vem para somar é sempre bem-vindo”.
Tampouco, afirmo que dificuldade do controle seja sinônimo de fracasso. Também, me toma a idéia popular de que as dificuldades dignificam o herói.
Então, quantos números e unidades fazem a conta certa?
Já disse a meu filho que o dono das contas não sou eu.
Daí ele me vem com um exemplo:
- Mas, pense bem... eu peso 35 quilos e nem pareço pesar muito porque eu me agüento e não cansa. Mas, toda vez que você me pede pra carregar um saco de arroz do supermercado, que só pesa 5 quilos, logo estou cansado! Como pode?
- Eu não sei explicar direito, mas você vai se acostumando aos poucos com o peso do seu corpo. Você não percebe quando muda de peso. Assim, seu corpo se adapta devagarinho, concorda?
- É! Faz sentido, sim! E o saco de arroz aparece do nada, lá da prateleira pra eu carregar, não é? Por isso, então, que cansa!... Se eu fosse você, então, pensaria muito, antes de me fazer pegar tanto saco de arroz!
- Por outro lado, e se você passar pela prateleira e não pegar o arroz?
.........................................................
- Acho que morro de fome. Adoro arroz!
- Pois é!
.........................................................
- Mas, também, e se você me pedir pra carregar 7 sacos de arroz, de uma só vez?
- Ué! Eu não vou fazer isso. Vou sempre ajudar você!
- Hum!
.........................................................
- Qual é seu peso?
- Devo ter uns 80 quilos, hoje. Mas, por que?
- Tem sempre alguém pra ajudar você a carregar 16 sacos de arroz de uma só vez?
.........................................................
- É! Tem razão! Não dou conta de carregar tudo isso.
- Pai!... já que você não é o dono das contas, da próxima vez, me deixa
carregar só 2 quilos de feijão?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

De Chocalhos e Caixinhas de Presente

Pegaram o aviãozinho, desmontaram e puseram dentro da caixa. A torre de rádio foi posta por debaixo dos panos que cobriam a televisão quatorze polegadas. O carrinho vermelho que custou os olhos da cara, mas foi o melhor presente do Natal passado, colocaram-no detrás do portão da casinha velha, aquela com a pintura fosca e empalidecida. Lógico que trocaram a casinha por uma mais nova; a velha, o caçula pegou pra ele. A lancha que ainda anda direitinho na água foi emprestada pro priminho e até hoje ele não devolveu. Deu vontade até de comprar uma outra, maior e mais cheia de botõezinhos pra brincar nos fins de semana. Mas, só podem no fim de semana, pois, dia de semana tem que estudar. Agora foi preciso comprar uma moto a mais, pra não criar qualquer sentimento de inveja ou de menos valia na família. A gangorra atual é feita sob medida e de madeira mais resistente, diferente da antiga que podia quebrar a qualquer momento. O fogãozinho que fazia comida de verdade, nem souberam dizer onde estava. Acham que foi dado de presente para quem precisava, também no Natal passado. As panelinhas ficaram demodê e já existem panelinhas mais bonitas que aquelas do aniversário. As bonequinhas e os bonecos precisaram de roupas novas e a mamãe cuidou de costurar uns panos mais vistosos e mais na moda. As antigas foram “doadas”, já que não tinham mais valor. Só a bola permanece a mesma. Está gasta, mas é de estimação. Muitos gols foram feitos com ela; e aqueles gols...Ah! Aqueles gols não têm preço.
- Papai, gente rica também brinca de casinha, né?
- Brinca, filho! Brinca! E enjoa de brincar, igualzinho a você!

sábado, 1 de dezembro de 2007

A Arte da Rotina Cartesiana

Pequena caixinha que tem um presente, um tesouro secreto e o riso da gente; leva pro fundo uma vida e, depois, eleva ao céu infinito nós dois.

Ela acordou e foi trabalhar.
Ela levou as crianças à aula.
Ela almoçou com uma amiga antiga.
Ela resolveu o problema do chefe.
Ela voltou mais cedo pra casa.
Ela pegou as crianças, de carro.
Ela resolveu passear com os meninos.
Ela comprou um vestido da moda.
Ela lanchou e brincou com os filhos.
Ela chegou quase às vinte horas em casa.
Ela resolveu ajudar o esposo.
Ela preparou um risoto pra todos.
Ela banhou-se e chamou o marido.
Ela resolveu que queria amá-lo.
Ela beijou-o e jurou-lhe paixão.
Ela sacudiu-o às seis da manhã.

Ele levantou-se com cara de bravo
E foi à cozinha tomar seu café
E pegou a maleta pra ir ao trabalho
E pagou as contas no banco lotado
E ligou pra esposa contando as saudades
E tentou almoçar com um amigo de infância
E mandou o empregado mais cedo pra casa
E ligou pros amigos no meio da tarde
E foi para o clube jogar futebol
E tomou um chopp com o esposo da nora
E contou pro irmão dos problemas de grana
E voltou para casa cansado do dia
E seguiu pro chuveiro com a roupa suada
E lembrou-se da luz da cozinha queimada
E esperou a esposa deitar-se
E sorriu com uma cara de quem quer algo mais.

Dormiram abraçados.
Casaram-se aos vinte,
tiveram três filhos,
formaram-se, os dois, em direito,
compraram uma casa,
viraram avós,
brincaram com os cinco netos,
ficaram a sós,
pra sempre, enfim!

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Viver in verso

Escrever fino ou escrever grosso.
Como se uma lapiseira 0.5 tirasse da idéia um coelho branco e bem dentuço e bem gordo e puxado pela orelha, agarrado a uma cenoura. E depois do puxão, ter que sair do cantinho escuro e ser mostrado a todo mundo que aplaude o pensamento implícito do coelho dizendo: “Isso doeu, caramba!”. O bom é que saiu, oras! Saiu!
Agora, é só saber: quanto vive o traço fino num papel?
Tempo não é nada. Antes pouco tempo ao borrão do grafite 0.9 apagado as cem vezes que o mágico treinou despistar o público com o fundo falso da cartola.
Menos mau, ainda, será?, não ter optado pela caneta que faria jus à teia de aranha rabiscada para o eterno fim cavado trezentos anos depois, enterrada junto à ossada de um coelho empoeirado.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Uma ruazinha

Uma ruazinha com ar nostálgico. Era, sim! Uma rua sem calçadas, sem cimento, sem concreto. Havia um rumo para nela se seguir, sim, mas tudo formado com a ajuda do vento e dos passos marcados pelas pessoas que ali pisavam todos os dias, por todo o tempo; ao longo do tempo que a ruazinha existia. E existia, sim!
Às vezes passava por ela, parava, olhava, o que me deixava um pouco confuso ficar ali, assim absorto, buscando captar o que aquela ruazinha significava pra mim. Havia dias em que a grama seca era contrastada, paradoxalmente, às flores sempre vívidas, reluzentes que adornavam toda a paisagem da rua. Todas as casas, tanto as da direita quanto as da esquerda que delineavam e traçavam os limites da ruazinha, ganhavam vida com as rosas, gardênias, hortênsias, girassóis, orquídeas, margaridas e todas as outras que conheço muito bem; ganhavam brilho e escapavam à visão de tantas pessoas que as quisessem absorver somente com o olhar que logo se perdia no horizonte infinito de cores.
Também nunca soube dizer se era primavera. Apesar das flores sempre vivas, um sol fosco era sempre presente. Mal se viam sombras. Por vezes, cheguei a pensar que aquele lugar era mágico; que Deus não tinha poder sobre ele. Juro que o mistério de tudo aquilo hipnotizava, promovia divagações infindas. Bastava estar ali e toda essência da ruazinha fugia a qualquer explanação lógica. Outono sem graça, seco e constante, com árvores frondosas e altas que seriam refúgio perfeito para o casal apaixonado ou o peão que descansa fazendo a cesta depois do almoço num dia de verão. Não sei! As pessoas que nela viviam preferiam ficar quietas, pois, uma rua assim, apesar de toda beleza, afugenta com tantas incógnitas tangentes. Sendo assim, havia dias em que tudo se assemelhava ao mais intenso inverno, pela falta de vida aparente. Rigorosa proteção do frio que a ruazinha inspirava; mesmo sem chuva; mesmo sem neve.
Aquelas casas altas, grandes em espaço e beleza. Rústicas e com muitas janelas. Muitas! Vi muitas outras flores através delas. Vi muitos mundos à parte, dentro daquelas grandes casas. Em uma vi três crianças correndo enquanto uma suposta mãe preparava o jantar em uma panela de pressão. Eram os sons mais comuns, os das panelas, em vez de pássaros na paisagem. Lembro-me de que segui um pintassilgo até a janela de uma outra casa vizinha. Ficamos os dois assistindo à cena que se passava na tela daquela janela: uma lareira acesa e, ao lado, uma gaiola com dois passarinhos que cantavam com uma beleza tão grande quanto a de todas aquelas casas. Afastando-me, podia ver a fumaça da lareira subindo por uma chaminé, desenhando nuvens bonitas no céu que logo se desmanchavam e se fundiam com o mistério daquela ruazinha.
E era assim aquela ruazinha, bem ali, desenhada naquele pedacinho de azulejo. Às vezes lembro e penso: quantos pedacinhos de azulejo, como este, seriam necessários para compor uma cozinha, completar um salão de festas ou um banheiro?

Ludo

Hoje quero um amor de criança, pois ela é pura, doce, meiga. Quero um amor que me faça rir; que me faça ver a vida transformada em roda gigante, em pirulito, pipoca; pois, a mesma criança pura, doce e meiga sabe, melhor que ninguém, o que é ter um passe livre para brincar com a vida de forma responsável. Sabe o que é ser querida. Sabe o que fazer num parque.
Hoje quero um abraço de criança, pois ela é segura, verdadeira, hábil. Quero um abraço que me faça ser querido; que me faça ver o mundo como um enorme colo que acolhe, que afaga, que conforta; pois, a mesma criança segura, verdadeira e hábil mostra-se frágil e conhece o fato de que até mesmo Deus, um dia, teve um filho para poder provar a esse mundo a necessidade de sentir-se envolto e protegido.
Hoje quero um beijo de criança, pois ela é livre, é sol, é lua. Quero um beijo que me tire o fôlego. Que me faça ver as estrelas cintilantes em harmonia, em júbilo, em luz viva; pois, a mesma criança livre, sol e lua, sabe que essa falta de ar nos ilumina, leva-nos ao planeta mais harmônico do universo. Eu e ela; Gênese!
Hoje quero um olhar de criança, pois ela é mensageira, toca, é poesia. Quero um olhar que me desnude. Que sobressalte minha alma como num "Raio X". Que me mostre meus avessos, meus segredos, então, espelhados; pois a mesma criança mensageira, que toca e é poesia, também, um dia, nasceu e se encantou quando sentiu-se tocada.
Hoje quero o calor de uma criança, pois ela é quente, intensa e aquece. Quero meu coração aquecido. Que faísque meu pólo mais ermo e contagie, até mesmo, os vales onde não existem carne, nem osso... as cores que só existem em meus devaneios; pois, a mesma criança quente, intensa e que aquece é sábia quando se contagia com o fogo de sua própria existência. Sabe o que essas fagulhas valem; Chama!
Que o dia de hoje seja a mensagem de amor mais puro, com o beijo mais intenso, sabor pirulito. Que essas palavras toquem o céu de forma pura e que o sol que emana vida seja ainda mais aquecido por um abraço lunar. Que Deus leia e ouça meus desejos...
Ah, como é mágico imaginar essa como sendo nossa eterna gênese, minha terna criança!

O Baú

Resolvi jogar dentro do baú algumas peças. Resolvi, ainda, xeretar lá dentro e ver se há algo útil que escondi naqueles tempos. Eram tantas coisas pra jogar que resolvi começar esvaziando-o. Foi-se tudo, de uma só vez, ao chão. Virar o trambolho foi fácil. Não dá trabalho. Só meus trecos entenderiam a razão de tanto zelo. Se eles pudessem falar... Pensando bem, se pudessem falar perguntariam por que foram parar mofados lá no fundo. Eu fingiria que não escutei e manteria o sorriso tradutor de uma aparente saudade quase inerte. Eu forçaria, de verdade, manter o zelo que lutei pra que viesse à tona.
Uma a uma, todas me traziam presentes as vidas que ficaram só nas fotografias, as mesmas estáticas num desenho capturado no tempo.
Expor-me a tal reencontro não me fez cego. No entanto, não me fez ativo. Curioso! Pode um presente, que já naquela época era chamado de alegria, transformar-se numa mera reminiscência sépia, insossa?
Por qual motivo, então, eu quis jogar mais coisas dentro do baú antigo?
Através do baú, eu passava a dimensões que já vivi. Por meio dele, eu revivia as dimensões pelas quais passei.
Sendo essa minha desculpa para aumentar o peso do trambolho, lá pelas tantas tudo ficou misturado. Tudo eram presentes; tudo era passado.
Jogar tudo fora doía. Jogar tudo no baú pesava. E me emergia quase uma sensação odiosa de um espírito vivo-morto por não saber o que fazer ou perder tempo “selecionando” os momentos mais marcantes.
No final, preferi a dor ao peso e à quase morte. Optei por isso em virtude de um argumento não menos imposto que meu reencontro com o pó involucrado (feio assim, mesmo!): o mesmo tempo que açoita as lembranças na sua aparência e valores, pelo pecado do desuso, é o remédio e prêmio àquelas vidas que usam o seu passado como estopim de um futuro zeloso. E essas vidas não merecem o castigo de uma prisão.

Da Plantação à Colheita

Mais um talho no dedo e a cana deitada no chão se amontoa por um caminho que escapa à visão.
Queria ver Maria sentada lá no quintal da casa, pilando o café servido amanhã, com certeza! Um dia hei de casar com uma moça bonita. Ah, eu sonho, sim, entrar na igreja com aquela roupa preta e um lenço no bolso; o cabelo brilhando. Penso, sim, em ter família e comprar terra boa pra plantar. No dia do casamento quero meus amigos todos lá; minha família. Sei não, mas minha mãe vai chorar demais. Mas é de alegria. É! Um dia vou casar, mas é que agora ainda não posso, né. Ainda tenho que ajuntar dinheiro. E é tanto pouco tempo pra viver, que não conheço moça tem é tempo! Outro dia me lembrei foi das meninas da Vila Ipezinho. Êta, mas aquelas eram folgadas, viu! E não eram de confiança, também. Tinha hora que era uma querendo comer o fígado da outra e a outra querendo sentar a faca nas costas da uma... nem dava gosto. Ta vendo esse sangue aqui no dedo? É pouco. Já vi foi muito mais que isso. E não eram só elas. Na vila, nem os homens eram de confiar. O Darço que mandava na cidade parecia garrote que segue a fila e só levanta a cabeça se for pra desviar do rabo do boi da frente. Era um babão, aquele. Pastava na mão de qualquer um. Ainda tinha homem que botava banca de vaqueiro, tocava a manada, montava no lombo dos cavalos que trotavam no ritmo certinho. Quem tem rédea vai até onde quiser, ou até o cavalo morrer e trocar por outro, né. Tinha cobra na cidade, também, que nem aqui, só que é gente... Tinha hora que eu não sabia quem era pior. Se, de um lado, tinha o vaqueiro que era quem mandava de verdade e não levantava o rabo do lombo dos cavalos, por outro, onde se pisava tinha cobra traiçoeira. O Darço, coitado, nem via o que acontecia ao redor. Ou preferia não ver, né. Diz que, de gente assim, se desconfia duas vezes. Já vi a Miana e o Jerssi soltar os venenos na hora certinha. Um dia, dizem, né... não sei... que o Jerssi fez umas propostas de desposar a Miana lá detrás do monjolo. Miana não quis. Queria casar antes. Mas ficou nisso, né. Miana tinha apreço pelo moço; tinha simpatia. E ele, muita estima pela moça. Acontece que de tanto levar não, o Jerssi se engraçou com Dorinha, moça que chegou na vila um tempo depois, e a tal moça também começou a se arrastar pra ele. Resolveram noivar. Acontece que o Boloca, irmão da Miana, viu as proximidades da irmã com o Jerssi lá no monjolo e resolveu delatar. Aí foi farofa pra todo lado. A vila toda começou a falar mal do Jerssi e tomaram partido da moça. Resultado foi que ela resolveu falar que ele tinha era forçado, e que não falou nada antes pra proteger a reputação dela e a posição do moço, que até tinha certo prestígio. Ele bem que tentou se justificar, mas não deu. Teve que sair fugido e nunca mais vi o sujeito. Perdeu foi tudo, aquele. Daí a vila toda ficou sabendo e eu nem sabia quem era pior... se era o Jerssi que fez o malfeito ou se a Miana que mentiu, dizendo que foi forçada. Acho até bom não julgar, por quê, depois, quem vai parar no inferno sou eu. Já é meio desagradável viver com esse povo aqui. Imagina dividir espaço com eles lá na casa do tinhoso. Deus que me guarde disso. Prefiro ficar aqui na cana. Cá eu ganho pouco e talho o dedo, mas só me preocupo com a comida e a visão de Maria todo dia. Hei de casar com uma moça como ela, sim. Tem a Ruiva que se engraça pro meu lado, mas não chega aos pés da Maria. A Maria que é razão de sorriso. Se Ruiva tivesse as pernas dela; a beleza. Ah, se fosse dela! Ah, se fosse bela! Como ela, só o amor de Jesus que, aqui na vida, só se sente, não se vê. É tudo época! De plantar e de colher.

Zezinho, Joana e Um Amigo

Dizem que escrever histórias requer paciência. Dizem que pede inspiração; uma dose de imaginação, criatividade. Há outros que dizem que só se precisa da lembrança como companhia, sentada na cadeira ao lado.
Há dias em que sinto que as lembranças são chatas, a inspiração é uma companheira que só me faz querer sentar-me à rede e exercitar o silêncio vazio, a paciência parece uma conhecida de infância (e já passei desta há décadas!), com a qual não guardo mais qualquer relação de intimidade. Colocar as coisas em palavras, nesses dias, é o último recurso.
Li, outro dia, das várias páginas rasgadas por um autor na tentativa de escrever a primeira frase de sua história. Tem que haver a chama divina que traz à terra o sopro ou fagulha lingüística manifesta em sopa de letrinhas num papel.
Em uns dias, as letras aparecem como flashes ou imagens que não param de existir. Em outros, a câmara só tira fotos queimadas, desfocadas e ocas. E hoje é um dia que segue a segunda sugestão. É, também, um último recurso.
Como já perdi o sorriso e o prazer, vale qualquer rabisco que faça o tempo passar. Passatempo, sim! Mas, não lhe parece que o passatempo vivido nos tempos de criança soava mais leve e contente?
Antes de me justificar, rascunhei uma primeira frase:
“Quem imaginaria que a espera pelo próximo trem...”
E travei!
Vi a cena de uma jovem mulher parada numa estação à espera do trem de volta para o lar. Eu sabia como era o lugar. Poderia descrever, inclusive, o que se passava dentro da jovem de vinte e cinco anos que eu vi. Senti sua respiração, tinha certeza do que seu olhar triste queria que eu pusesse no papel, vivi com ela a mesma batida de coração. Ouvi o que sua alma queria me dizer. Porém, hoje é um daqueles dias em que me sinto incompetente. Apaguei a frase, e entreguei essa alma nas mãos de Deus. Minto! Virei as costas e fui embora, bem assim! Sobrou-me a culpa. Sorte ter como álibi o sentimento ruim que me justifica qualquer fracasso no dia de hoje.
Engraçado! Veja só como são as coisas!
Ontem rimos de um jovem que se aproximou dizendo:
- Se eu tirar um sorriso de vocês, ganho um trocado, moço?
- Sim, vamos lá! – e não tinha como ser diferente a resposta ao garoto com tintas no rosto.
Não sei a razão, mas minha intenção era simplesmente ficar sério todo o tempo, a fim de saber quantas coisas o tal menino sabia fazer. Deixei que esgotasse todas as tentativas.Umas sem grande graça, verdade. Outras engraçadíssimas! Permaneci sério. Foram contados três minutos e ele abaixou a cabeça e substituiu o sorriso inicial, em função da chance dada, pelo ar sério:
- É, moço! Desculpe-me! E obrigado pela oportunidade. Tem dias que a gente sente que faz, mesmo, papel de palhaço sem que fosse essa a intenção real, né? – E sorriu, saindo.
Mas gargalhei com o comentário. Assustado, ele virou-se e esperou o desfecho de minha reação inesperada.
- Tome aqui, rapaz! Você é muito bom no que faz! Deveria pensar em levar a sério sua arte. Todos os dias você está aqui?
- Sim! – sorridente e com ar de orgulho.
Despedimo-nos dele, felizes, e fomos.
Hoje, enquanto voltava pra casa, resolvi parar no mesmo lugar onde encontrei aquele jovem de ontem. E não havia criança alguma com rosto pintado. Mas tinha, sim, um moleque sentado no meio-fio, hoje sem máscaras e sem fazer qualquer questão de arrancar sorriso de ninguém. Aproximei-me, sentei-me e perguntei:
- Olá! Está de folga? Não tira sorrisos dos outros, hoje?
- Hoje não faço as pessoas rirem, nem pinto meu rosto. Mas, sabe, moço... tem dias que a gente sente que faz papel de palhaço sem que fosse essa a intenção real, né?
Fiquei em silêncio por uns instantes.
- Mas você não gosta, então, do que faz?
- Gosto, sim! É que hoje eu só queria descansar um pouco. Meus amigos pegaram meu dinheiro de ontem e sumiram. Acabaram me fazendo de bobo. Tô triste!
Conversei mais alguns minutos com o Zezinho e vim embora. Prometi voltar pra rever o novo amigo mais vezes.
O dia passou e creio que estou como o Zezinho. A grande diferença é que ele sabia o motivo do seu desconforto. E os meus são tantos, que nem sei qual deles usei como pretexto. Como pode? Os nomes que se dão às coisas são os mesmo. Tristeza, guardadas suas diferenças ortográficas e fonéticas características de cada idioma, tem o mesmo significado em todo canto; alegria é alegria em todo lugar; medo idem... Como pode a mesma coisa ser vista de jeito tão peculiar, no entanto? Como pode ser tão subjetiva a experiência de cada uma? E, logo, pode se desfazer!
Veja, foram-se minutos que preenchem quase uma hora de meu tempo, já! Parece que está funcionando. Só não consegui, ainda, uma idéia para escrever.
Há uma hora eu conversava com um grande amigo ao telefone. Certa vez ele me disse que o grande segredo da vida era abrir a geladeira, pegar aquela cerveja gelada e curtir os momentos antes da grande confusão. Lembrei-me da conversa àquela época:
- Mas, Zé, ela descobriu tudo e você nessa calma?
- Rapaz, só amanhã que vou saber do desfecho. Nem sei o que ela pensa disso. Vou me estressar pra quê?
- Ta certo! Até lá, a cerveja!
- Mas é óbvio! Uma loira de cada vez!
Sabe de uma coisa... Talvez, esteja certo.
Amanhã verei Zezinho. Temos muito que aprender. É estranho como em todo tempo é preciso fazer com que as coisas sejam vividas. Se não é pela inquietude que uma angustia gera, é pelo excesso de inatividade que esta mesma se manifesta e dá voz. O grande perigo é se perder nisso e a desorientação ecoa em tudo.
Quando me omiti há alguns minutos, a alma daquela jovem queria me dizer o seguinte:
“Quem imaginaria que a espera pelo próximo trem seria o início de uma viagem fascinante! Tal fascínio não me cegou os medos nem evitou as quedas que eu previa levar. Trouxe, daquela estação, todos eles comigo. Eram meus! Só não previa que, na bagagem, eu acrescentasse asas que me fariam conhecer jardins tão vistosos em minha volta ao lar”.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Versos da pouca prática

Do espaço vazio
à cabeça cheia
de idéias soltas,
o silêncio dói...

Mas, só quando não há
a voz irritante
de um anjo vadio
perturbando meus sonhos de herói.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Um Dia a Casa Cai

Dona Manda é a candura em pessoa. Nunca vi!
Seu único defeito, opinião unânime entre nós, foi parido por ela.
Coitada dela! Mãe nenhuma merece.
Foi hoje que vi Dona Manda perder a compostura.
Veio o peste...
... Bateu no vizinho, tacou pedra no Zezinho, quebrou vidro, xingou cinco e correu.
Ao que ouço, bem baixinho:
- Filho de uma mãe que não sou eu!

quarta-feira, 14 de março de 2007

Uma Data Especial

Um dia, Deus acordou e fez o mundo. Foram seis dias de trabalho. No sétimo, descansou.
Lá pelo oitavo dia, assim que levantou-se, subiu aos céus e pôs-se a observar Sua obra lá de cima, contemplando a arte feita com perfeição. Tinha um vulcão. Notou que acertou em fazer a montanha e seu pico coberto de neve, afinal, se há fogo, há de se ter algo que o controle. Água gelada Lhe pareceu uma ótima idéia!
Reparou o espaço enorme onde só existe o vento que transparece o céu azul e as nuvens que brincam de fazer formas. Daí, soltou um outro sorriso pela brilhante idéia de enfeitar esse espaço com pássaros, dos mais coloridos aos que bailam sozinhos ou em companhia.
Lá embaixo, não tinha como não sentir orgulho do verde das árvores com o amarelo da terra e o azul do mar em contraste ímpar. Tratou, também, de não deixar, aqui na terra, qualquer pessoa com dom artístico que superasse a combinação dessas cores, feita por Ele.
Lá na grama vinha uma formiguinha, programada para cortar folhas e viver embaixo da terra; programada pra fazer sua casa, pois haveria dias em que proteger-se era essencial; programada para viver, e desafios são feitos de propósito para se ter uma razão nas coisas. Assim fez com tudo que é vivo. E sorriu, outra vez!
Pai Nosso!; Mãe Natureza! Sol do dia: luz; luar da noite: luz; estrela-do-mar: água; estrela no céu: infinito.
Viu lá, escondidinha atrás da sombra de uma pedra, uma mulher. Ali por perto, exposto ao sol, um homem. Tocou os dois, um de cada vez, não por não conseguir tocar os dois ao mesmo tempo, mas só para poder contemplar melhor Sua criação. Em um, deixou o experimento de um choro triste; no outro, a vivência de lágrimas sorridentes. Em ambos, alguma espécie de contemplação do que se fazia evidente em seus corações naquele instante exato, mas infinito em sua força. Aí estava a Vida!
Foi aí que Ele parou de sorrir. Franziu a testa e divagou em seus pensamentos. O mundo parou naquela hora precisa. Fez-se silêncio e vazio. Foi, então, que Ele retomou a onividência e proclamou o amor como o único sentimento eterno e mais nobre, bem como o perdão seu aliado oposto e antídoto, destituindo o ódio de seu posto tão ostentado por alguns que ainda não O conheciam. E sorriu como nunca antes feito! Depois de um tempo que Ele induziu alguém aqui entre nós a dizer que "os opostos se atraem".
Tudo isso em um dia. Um dia especial! Um dia eterno!
Mostrou-se, então, e, mais uma vez sorrindo resplandecente de amor, desejou a uma vida muito especial, feita por Ele:
- Feliz dia novo!