Quando meu filho nasceu, toda alegria e mudança só podiam fazer com que minha vida fosse dividida por dois. E era importante o zelo por duas vidas em uma só. Metade era minha, metade era dele. Éramos nós, enfim!
Nem todo mundo pensa em como é ver um trisco de gente crescer, aprender a falar, andar... E, ainda, assim, parece que o mundo é grande demais pra se saber sobre todos os seus mistérios.
Acostumado com a cidade, construções, máquinas que parecem vivas, um dia resolvemos passear na fazenda de meu avô. Fora essa a primeira vez que ele vira tanto verde, tanto lugar pra correr, sol amarelão (como ele dissera), céu azulão (este, eu que falei), curral cheio e vento, em vez de carros e rock.
Foi pela manhã, debruçado sobre a janela que dava pro jardim, que me gritou com tom surpreso. Acudi, prontamente. E, com o indicador apontando pra fora da janela, solfejou baixinho, quase que como sussurro:
- Olha lá, pai! Uma folha voando.
Um tanto surpreso, também me fiz cochichando e me agachei:
- Onde, filho? Não vejo uma folha voando.
- Ali! Perto da flor amarela da vovó.
- Filho, continuo não vendo a folha.
- É que agora ela está quietinha, descansando em cima da flor. Mas ela vai voar de novo.
Fiquei quieto, esperando pra ver até onde iria essa estória de folha que voa. Pensei que pudesse ter caído alguma folha da laranjeira ali perto.
- Continuo sem ver a folha. Fala pra mim que cor era ela.
- Branca, pai.
Fiquei desarmado. Folha branca não podia ser a da laranjeira. Aliás, não conheço folha branca de árvore alguma. Não! Não deve existir – pensei. Deve ser imaginação de menino.
Foi, então, que vi a folha branca se mexer.
- Viu, pai? Ali, tá voando de novo.
- É verdade. Olha, lá! Uma folha voando.
Foi a primeira vez que vi uma folha branca voar. Mas era verdade. Não era invenção dele. Voava! E não era folha caindo, normalmente. Ela se movia de um lado pro outro; subia; descia. E passeava por entre as flores amarelas, pousava, voltava a voar por entre outras flores vermelhas, rosas... Em toda minha vida, foi a primeira folha branca que vi voar.
E ficamos parados, em silêncio, apreciando o vôo por alguns segundos, até que ela sumiu no horizonte.
Como toda criança urbanizada, virou-se seriamente pra mim e disse:
- Pai, a gente tem que prometer que não vai falar isso com ninguém. Acho que podem falar que a gente é meio doido – e sorriu, no final.
Falei com ele pra não se preocupar, que não havia nada de errado naquilo, mas jurei segredo nosso.
Foi nossa primeira folha branca voadora.
Mais tarde, quem sabe ela se transforme, enfim, em borboleta.
Nem todo mundo pensa em como é ver um trisco de gente crescer, aprender a falar, andar... E, ainda, assim, parece que o mundo é grande demais pra se saber sobre todos os seus mistérios.
Acostumado com a cidade, construções, máquinas que parecem vivas, um dia resolvemos passear na fazenda de meu avô. Fora essa a primeira vez que ele vira tanto verde, tanto lugar pra correr, sol amarelão (como ele dissera), céu azulão (este, eu que falei), curral cheio e vento, em vez de carros e rock.
Foi pela manhã, debruçado sobre a janela que dava pro jardim, que me gritou com tom surpreso. Acudi, prontamente. E, com o indicador apontando pra fora da janela, solfejou baixinho, quase que como sussurro:
- Olha lá, pai! Uma folha voando.
Um tanto surpreso, também me fiz cochichando e me agachei:
- Onde, filho? Não vejo uma folha voando.
- Ali! Perto da flor amarela da vovó.
- Filho, continuo não vendo a folha.
- É que agora ela está quietinha, descansando em cima da flor. Mas ela vai voar de novo.
Fiquei quieto, esperando pra ver até onde iria essa estória de folha que voa. Pensei que pudesse ter caído alguma folha da laranjeira ali perto.
- Continuo sem ver a folha. Fala pra mim que cor era ela.
- Branca, pai.
Fiquei desarmado. Folha branca não podia ser a da laranjeira. Aliás, não conheço folha branca de árvore alguma. Não! Não deve existir – pensei. Deve ser imaginação de menino.
Foi, então, que vi a folha branca se mexer.
- Viu, pai? Ali, tá voando de novo.
- É verdade. Olha, lá! Uma folha voando.
Foi a primeira vez que vi uma folha branca voar. Mas era verdade. Não era invenção dele. Voava! E não era folha caindo, normalmente. Ela se movia de um lado pro outro; subia; descia. E passeava por entre as flores amarelas, pousava, voltava a voar por entre outras flores vermelhas, rosas... Em toda minha vida, foi a primeira folha branca que vi voar.
E ficamos parados, em silêncio, apreciando o vôo por alguns segundos, até que ela sumiu no horizonte.
Como toda criança urbanizada, virou-se seriamente pra mim e disse:
- Pai, a gente tem que prometer que não vai falar isso com ninguém. Acho que podem falar que a gente é meio doido – e sorriu, no final.
Falei com ele pra não se preocupar, que não havia nada de errado naquilo, mas jurei segredo nosso.
Foi nossa primeira folha branca voadora.
Mais tarde, quem sabe ela se transforme, enfim, em borboleta.
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