Meu pequeno segredo é saber que tudo que vivi é vivo só na memória. As fotos e quadros que pintei só conseguem sorver uma parcela ínfima do que vi de minha história. É hora de tentar contar o que não consigo, para saber se, vivo, tenho chance de avivar alguém.
E lá vêm... minhas vidas:
Para um menino, que sempre sorriu quando disse tchau, meu primeiro abraço. E um sorriso lúcido que não finda, à mocinha tímida de tão linda que é.
“Mulher, volto logo! Não pense que vou deixá-la tão cedo. E, ainda que toda distância deixe medo no espaço vazio que se forma entre nós, saiba que é passageira essa sensação de frio. Em breve retorno para aquecê-la.”
“Pois vai logo... e volta logo para que não me encontres congelada quando voltares.”
Assim foi e sempre será.
Assim, fui.
Conto quando chegar.
“Mãe, o papai demora dessa vez?”
“Entra e vai dormir. A noite ajuda o tempo a andar mais rápido. Aprende: se queres que algo bom te aconteça logo, de noite pede a Deus pra que descanses muito. É assim que no outro dia vais aproveitar muito mais o que tanto querias.”
... “Sinto falta do papai! Vou pedir a Deus que só me acorde quando ele chegar.”
“Mamãe, também vou pedir a Deus para que eu durma até o pai voltar. Só estou pensando que, se Ele aceitar meu pedido, vai ser um pouco doído o zero na prova que a professora vai dar.”
“Deixa de ser sabichão! Aprende tu, agora, então: sonhos são bons e a gente deve sempre tê-los. Mas não te esqueças de que céu azul só pode ser visto por quem tem os olhos abertos. Abre os teus e vive.”
Se tudo foi assim, não sei. Mas, para mim o foi, e me basta!
Enquanto todo mundo dormia, era eu quem me esforçava para manter os olhos acesos. Qual languidez me consumia! Êta Jesus! Só, mesmo, a Sua luz!
“As crianças já dormiram, sim. E me preocupo mais contigo. Sabes o tamanho do perigo que é viajar a essas horas, sozinho e sem alguém pra conversar.”
“Sei disso. Tu, também, me trazes saudades. Sabes que, por mim, estaria junto. Bem que dava pra deixar isso pra depois. Mas, tem gente que insiste numa coisa e não há quem tire da cabeça.”
E assim eu ia. Tirando saudade e melancolia, meu destino dependia do que me aguardava do outro lado. E este não estava em minhas mãos.
No caminho, parei várias vezes. Em dois dias de estrada fiz parceiros, camaradas, e até uma cigana que jurou que não engana ninguém, e nem cobra por consultas há mais de vinte meses:
- E qual é a lógica dessa sua razão?
- A mim foi dado um dom. Se veio de graça, que eu o use como tal. Coisas assim não se pagam. Nem se pode aceitar um agrado. Alimento-me dos sorrisos de quem me procura e confia.
- Que lhe diz, então, o meu destino?
- Ele está lá. E me aparece sorrindo, não como pilhérias, mas como acalanto.
- Pois, é tudo de que preciso!
- Então vai... saberei se precisares de ajuda. Não sou exatamente como pensas. Mas, não te assustes. Também dependo de você.
Estranho, heim! – pensei. Será que toda cigana tem que atiçar calafrios, também?
- Não te preocupes. Todos estamos ligados. Não disse nada pra deixar-te cabreiro. Vai em paz.
E fui!
Há dois dias que não dás notícia, homem! Há algo de errado, sinto! Minha mãe sempre rezou que acordar em plena madrugada com coração acelerado e peito apertado é sinal de sofrimento de quem se ama. "E, pensar nele, nessa hora, não foi nada confortante."
“Mamãe, sonhei com papai esta noite. Havia um anjo bem lindo, que segurava o papai, sorrindo, e pediu pra eu beijá-lo no rosto.”
“Não entendi o motivo de mamãe ter chorado com seu sonho. Ela está chorando até agora. Será que é algo ruim?”
“Não sei! Será que fiz algum mal ao papai? Juro que se eu pudesse, pediria a Deus pra tirar esse sonho da minha cabeça. Até peço, agora mesmo, pra que eu esqueça. Pra não ver papai sofrer.”
“Acho que sonho é sonho. Não atrapalha. E a gente está é acordado. Não precisa chorar, também.”
“Um bilhete?! Que será?”
“Mulher, sabes que há alguém muito especial precisando de tua ajuda. Confia! E usa todo teu amor por essa pessoa no dia de hoje. Valerá usá-lo assim.”
“Nunca vi a mamãe usar de tanta fé, e por tanto tempo, rezando!”
“Nem eu!”
“Venham comigo, meus filhos. Meu coração me diz que amanhã a gente saberá que valeu.”
“Pois, sim, mulher! Foi tudo melhor do que a gente imaginava. Sinto-me leve! E bom poder chorar sorridente, até por ter certeza que, nessa vida, somos nós os mais felizes do mundo. Foi por sentir teu amor tão presente, que nossa vida verá mais nuvens, estrelas, paixão e nascentes. A ti, meu beijo e um até logo!"
E assim, voltei!
O sorriso do menino companheiro continuava lá.
A timidez da mocinha amada continuava lá.
E o colo e coração belos de quem tanto zelou por mim, também continuava lá, quente, aquecido, como ninho aconchegante de quem tanto quer bem aos seus amores.
“ Este foi o bilhete. Sem assinatura, nem caligrafia conhecida. Quem o fez, será?”
“Um anjo, meu bem! Um anjo!”
E para quê saber quem é quem, nessa vida? Na partida, levo só meu arquivo pessoal. Às vezes, o mais importante não é quem, nem o quê, mas o como. E esta aqui é a minha vida. Devo tudo a ela. Ah, se ela não me deixasse ser o grande manco que sou! De tudo, o mais importante é saber que não se é perfeito e, ainda assim, ter respeito de quem mais me vale. Ela me foi dada; e por inteira. E inteira há de ficar. E se me for partida, encontro-me com o destino, outra vez.
E lá vêm... minhas vidas:
Para um menino, que sempre sorriu quando disse tchau, meu primeiro abraço. E um sorriso lúcido que não finda, à mocinha tímida de tão linda que é.
“Mulher, volto logo! Não pense que vou deixá-la tão cedo. E, ainda que toda distância deixe medo no espaço vazio que se forma entre nós, saiba que é passageira essa sensação de frio. Em breve retorno para aquecê-la.”
“Pois vai logo... e volta logo para que não me encontres congelada quando voltares.”
Assim foi e sempre será.
Assim, fui.
Conto quando chegar.
“Mãe, o papai demora dessa vez?”
“Entra e vai dormir. A noite ajuda o tempo a andar mais rápido. Aprende: se queres que algo bom te aconteça logo, de noite pede a Deus pra que descanses muito. É assim que no outro dia vais aproveitar muito mais o que tanto querias.”
... “Sinto falta do papai! Vou pedir a Deus que só me acorde quando ele chegar.”
“Mamãe, também vou pedir a Deus para que eu durma até o pai voltar. Só estou pensando que, se Ele aceitar meu pedido, vai ser um pouco doído o zero na prova que a professora vai dar.”
“Deixa de ser sabichão! Aprende tu, agora, então: sonhos são bons e a gente deve sempre tê-los. Mas não te esqueças de que céu azul só pode ser visto por quem tem os olhos abertos. Abre os teus e vive.”
Se tudo foi assim, não sei. Mas, para mim o foi, e me basta!
Enquanto todo mundo dormia, era eu quem me esforçava para manter os olhos acesos. Qual languidez me consumia! Êta Jesus! Só, mesmo, a Sua luz!
“As crianças já dormiram, sim. E me preocupo mais contigo. Sabes o tamanho do perigo que é viajar a essas horas, sozinho e sem alguém pra conversar.”
“Sei disso. Tu, também, me trazes saudades. Sabes que, por mim, estaria junto. Bem que dava pra deixar isso pra depois. Mas, tem gente que insiste numa coisa e não há quem tire da cabeça.”
E assim eu ia. Tirando saudade e melancolia, meu destino dependia do que me aguardava do outro lado. E este não estava em minhas mãos.
No caminho, parei várias vezes. Em dois dias de estrada fiz parceiros, camaradas, e até uma cigana que jurou que não engana ninguém, e nem cobra por consultas há mais de vinte meses:
- E qual é a lógica dessa sua razão?
- A mim foi dado um dom. Se veio de graça, que eu o use como tal. Coisas assim não se pagam. Nem se pode aceitar um agrado. Alimento-me dos sorrisos de quem me procura e confia.
- Que lhe diz, então, o meu destino?
- Ele está lá. E me aparece sorrindo, não como pilhérias, mas como acalanto.
- Pois, é tudo de que preciso!
- Então vai... saberei se precisares de ajuda. Não sou exatamente como pensas. Mas, não te assustes. Também dependo de você.
Estranho, heim! – pensei. Será que toda cigana tem que atiçar calafrios, também?
- Não te preocupes. Todos estamos ligados. Não disse nada pra deixar-te cabreiro. Vai em paz.
E fui!
Há dois dias que não dás notícia, homem! Há algo de errado, sinto! Minha mãe sempre rezou que acordar em plena madrugada com coração acelerado e peito apertado é sinal de sofrimento de quem se ama. "E, pensar nele, nessa hora, não foi nada confortante."
“Mamãe, sonhei com papai esta noite. Havia um anjo bem lindo, que segurava o papai, sorrindo, e pediu pra eu beijá-lo no rosto.”
“Não entendi o motivo de mamãe ter chorado com seu sonho. Ela está chorando até agora. Será que é algo ruim?”
“Não sei! Será que fiz algum mal ao papai? Juro que se eu pudesse, pediria a Deus pra tirar esse sonho da minha cabeça. Até peço, agora mesmo, pra que eu esqueça. Pra não ver papai sofrer.”
“Acho que sonho é sonho. Não atrapalha. E a gente está é acordado. Não precisa chorar, também.”
“Um bilhete?! Que será?”
“Mulher, sabes que há alguém muito especial precisando de tua ajuda. Confia! E usa todo teu amor por essa pessoa no dia de hoje. Valerá usá-lo assim.”
“Nunca vi a mamãe usar de tanta fé, e por tanto tempo, rezando!”
“Nem eu!”
“Venham comigo, meus filhos. Meu coração me diz que amanhã a gente saberá que valeu.”
“Pois, sim, mulher! Foi tudo melhor do que a gente imaginava. Sinto-me leve! E bom poder chorar sorridente, até por ter certeza que, nessa vida, somos nós os mais felizes do mundo. Foi por sentir teu amor tão presente, que nossa vida verá mais nuvens, estrelas, paixão e nascentes. A ti, meu beijo e um até logo!"
E assim, voltei!
O sorriso do menino companheiro continuava lá.
A timidez da mocinha amada continuava lá.
E o colo e coração belos de quem tanto zelou por mim, também continuava lá, quente, aquecido, como ninho aconchegante de quem tanto quer bem aos seus amores.
“ Este foi o bilhete. Sem assinatura, nem caligrafia conhecida. Quem o fez, será?”
“Um anjo, meu bem! Um anjo!”
E para quê saber quem é quem, nessa vida? Na partida, levo só meu arquivo pessoal. Às vezes, o mais importante não é quem, nem o quê, mas o como. E esta aqui é a minha vida. Devo tudo a ela. Ah, se ela não me deixasse ser o grande manco que sou! De tudo, o mais importante é saber que não se é perfeito e, ainda assim, ter respeito de quem mais me vale. Ela me foi dada; e por inteira. E inteira há de ficar. E se me for partida, encontro-me com o destino, outra vez.
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